Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Escrita ficcionada

Recuando no tempo

26.07.21, Olga Cardoso Pinto

caminho para a fonte de aguas santas.JPG

Escrevo um romance, passado na Idade Média, há pelo menos dois anos. Ando a mortificar-me por ainda não o ter finalizado, pois merece muita dedicação e pesquisa para que nada falhe nas vidas fictícias inspiradas noutras que foram bem reais. Já partilhei aqui no blog um excerto sobre o nascimento de uma das personagens, hoje partilho mais um pouco, espero que apreciem a leitura.

Boa semana!

 

"Nabica conhecia bem o Paço de paredes meias com o castelo dos Mendes, a primeira vez que ali entrara fora pela mão do seu pai, solicitado pela senhora para que ele lhe tirasse uma dor que sentia no baixo-ventre. Os seus olhos infantis bailavam ávidos por todo o lado, encantou-se com as cenas gravadas nas antigas tapeçarias, pois contavam estórias para si desconhecidas. Quando assomou ao aposento da senhora, ficou embevecida a olhar para o dossel que lhe cobria a cama, os tecidos limpos e alvos como nunca tinha visto, a pequena boquinha abria-se de espanto! Quando já estava cheia de tanto esplendor, depositou os sagazes olhos verdes numas pedras cintilantes, engastadas no colar que a senhora trazia ao peito, eram vermelhas como as cerejas que lhe diziam fazerem mal e que ela tanto gostava, e azuis como as bagas que colhia junto ao muro da sua moradia. Desde esse dia, acompanhou sempre o pai todas as vezes que ele era chamado à presença da Dona Godinha. Foi crescendo nestas visitas e conhecendo a maior parte do Paço - as cozinhas, os salões e chegou a espreitar a sala onde tinham muitos códices e livros! Como ela adorava sentar-se ali e poder folheá-los, ver as suas estórias, conhecer os seus segredos! Mas nunca a deixaram entrar, sempre que lá ia tentava abeirar-se do compartimento, ouvira o marido de Godinha, Don Rodrigo, referir-se a ele como biblioteca. Também aí, vira pela primeira vez, Martinho sentado num baú, contrariado e de castigo, fora obrigado a ler um fólio de cantigas trovadorescas do qual não percebia nada. O cabelo cortado reto sobre a testa e que longo lhe caía sobre os ombros, dispersava-se desordeiro com laivos de reflexos do sol que entrava pela janela. O rosto trigueiro estava enfiado no grande catrapázio que pesadamente se encontrava sobre as tenras coxas de criança. Nabica ficou a mirá-lo ainda algum tempo, mas assim que ouviu o mais leve ruído, fugiu rápida para as cozinhas. Uma vez foi apanhada a espreitar pela frincha da porta, tentava descortinar o interessante rapaz que cativara o seu pequenino coração. A criada, mulher avantajada, puxou-lhe a orelha e levou-a de volta para o pátio dizendo-lhe:
− O lugar das meretrizes é na rua! − ainda agarrando-a pela orelha atirou-a para o chão, Nabica sentiu-se desprezada e não compreendera o nome que a odiosa mulher lhe chamou. Uma lágrima teimou em fugir-lhe, mas rebelde levantou-se, sacudiu as saias e voltou a entrar indo ter com o pai aos aposentos da senhora."

 

 

Excerto do romance " O Abraço do Freixo" por Olga Cardoso Pinto

 

 

No leito do Mar...

14.07.21, Olga Cardoso Pinto

seabed-landscape.jpg

Fundo do mar

No fundo do mar há brancos pavores,

Onde as plantas são animais

E os animais são flores.

 

Mundo silencioso que não atinge

A agitação das ondas.

Abrem-se rindo conchas redondas,

Baloiça o cavalo-marinho.

Um polvo avança

No desalinho

Dos seus mil braços,

Uma flor dança,

Sem ruído vibram os espaços.

 

Sobre a areia o tempo poisa

Leve como um lenço.

 

Mas por mais bela que seja cada coisa

Tem um monstro em si suspenso.

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen - "Poesia", 1944

 

Voar (artisticamente)

12.07.21, Olga Cardoso Pinto

a primavera num arco iris_OCP.jpg

Os meus trabalhos artísticos, nomeadamente as ilustrações, têm uma outra casa - na JaamZIN Creative Studio - agência sediada em Singapura que representa uma variedade de talentos que vão desde a fotografia, passando pela pintura, ilustração e outras manifestações artísticas contemporâneas.

Esta é uma parceria semeada para frutificar.

Obrigada Zin e Zannnie 

 

Convido-os a visitar  aqui a minha página

 

Votos de um bom dia.

Bjs

 

Flores do campo

A beleza da simplicidade

05.07.21, Olga Cardoso Pinto

torga.jpg

A flor de urze é pequena, linda nos seus cachinhos que se perfilam para adornarem os campos, o seu nome científico é a Calluna Vulgaris. Esta bela planta também é conhecida por torga e foi nela que o nosso grande Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, se inspirou para lhe tomar o nome.

“… eu sou quem sou. Torga é uma planta transmontana, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras e rígidas.” - Miguel Torga

 

Fotografia: urze ou torga, Gomide - Vila Verde

 

Votos de boa semana!