O Assobiador queda-se na sua imponente presença, alheio ao girar do mundo, às maldades do Homem, às alegrias da evolução da Humanidade. Vive ali há 238 anos, plantado pela mão de gente, ou patinhas de bicho ou quiçá pela vontade divina. Sacode ao vento a sua cabeleira de folhas frescas que se enfeitam de frutos generosos. O seu casaco dá-lhe a altivez majestosa de um Senhor centenário, galardoado entre outros de aparência semelhante.
Os seus enormes ramos estendem-se ao alto, para o céu, e abrem-se em leque tocando o chão, como mostrando que ainda é deste mundo. O tronco largo e adornado pela grossa casca, já foi descortiçado mais de vinte vezes, dádiva que faz generosamente para além das suculentas bolotas. Imaginemos as suas amplas raízes que profundamente alimentam este belo sobreiro, enormes como dedos gigantescos que se afundam no fértil solo.
O Assobiador é um sobreiro singular, sim, majestoso ao qual devíamos prestar reverência, sobrevive desde 1783 num belo campo em Águas de Moura, em Palmela. Foi considerado o maior sobreiro do mundo e encontra-se protegido.
Pela sua longevidade, pela sua beleza e pelo seu nome, este velho sobreiro instiga-nos a imaginação: Assobiador. A curiosa denominação provém das inúmeras aves que procuram o seu refúgio para passarem a noite, do imenso chilreio que o enche para o aconchegar nos numerosos crepúsculos.
Esta será a nossa Árvore da Vida, o nosso Yggrasil, a árvore colossal que liga os eixos do mundo e que é o centro do universo.
Pintura a pastel sobre cartão, por D.Carlos de Bragança: Sobreiro, obra que inspirou o desafio desta semana.
Texto redigido para o desafio Arte e Inspiração, também participam: Fátima Bento a mentora do desafio, Ana de Deus, Ana Mestre, bii yue, Bruno Everdosa, Célia, Charneca Em Flor, imsilva, João-Afonso Machado, José da Xã, Luísa de Sousa, Maria, Maria Araújo, Peixe Frito, Sam ao Luar.