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A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Nada mais que um sopro

08.11.21, Olga Cardoso Pinto

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“Quando a tua partida for causada pelos teus atos, pela ignorância, ganância e desprezo

Quando as pedras por ti erguidas se desmoronarem e nada mais do que musgo e heras as adornarem

Quando se extinguir o ruído da tua evolução

Quando tudo ficará no silêncio da inexistência...

Eu voltarei

Nem que seja pelo suave sopro do vento, no esporo levado até ser vida

Pela água que voltará a brotar cristalina do interior da Terra

Pelo mais pequeno ser, pela erva fresca que germinará, pela árvore que se erguerá livre

Pela fruta e grãos, pelas aves cantoras de vida, por todos os seres sencientes inocentes

Serei Eu, a Senhora de Gaia, sobreviverei e tudo será impoluto, verde, fresco, luminoso

Voltará a ser azul

A girar livremente em volta da estrela Mãe

E tu, serás esquecido pelas memórias encobertas pelo pó a que voltaste, escondido pelas plantas rasteiras, retorcidas, que cobrirão as ruínas da tua existência.”

 

 

Carta de Brígida no romance de ficção “O Abraço do Freixo”, em 2018, por Olga Cardoso Pinto

 

Para ouvir Ludovico Einaudi com Mercan Dede

Boa semana!

 

Desafio Arte e Inspiração

Semana 8

05.11.21, Olga Cardoso Pinto

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Ilustração de moda, por Almada Negreiros

 

 

A moda é uma chatice! Deixamo-la impor-se, mandar em nós, tornamo-la um bem consumível e consumista, distingue-nos, submete-nos, escraviza! Sim, escraviza quem é louco por ela, nos rios de dinheiro gastos "vou ali ao baratinho assim posso ter mais roupa, calçado, acessórios"...e de duvidoso gosto e produção. Já pensaram (se assim se pode dizer daqueles e daquelas que se perdem na moda) quem produz horas a fio essas roupas giras, baratinhas, que se compram nessas marcas tão badaladas? Pois é, isso se chama exploração. Exploração para que se possa trajar um trapo fabricado num país onde os direitos humanos, e das mulheres, são NADA! Mulheres que são fechadas nas fábricas com filhos pequenos, e até de colo, aos pés, para produzirem essas roupinhas, coloridas, da moda, que nos apaixona nas montras e prateleiras de lojas iluminadas, de música a bombar e outras criaturas ávidas de roupas do último grito da moda.

A moda também dá estatuto. Sim, exibir a marca cara, para que outros possam ver como a pudemos comprar! E não é só vestuário, é calçado, relógios, joias...embrutece-nos o espírito na avidez do mostrar, de exteriorizar as nossas riquezas.

Já trabalhei em moda. Criei e confecionei para outros vestirem. Mas nunca explorei nem ridicularizei quem trabalhava. Criava para tornar cada mulher que me procurava mais feliz, sem futilidades. Aquelas mulheres que se sentiam inferiores, ouvi-as e aconselhava-as, animava-as no sentido de aceitarem o seu corpo e compreenderem que é possível vestirem-se de acordo com os seus gostos sem se compararem com as modelos das revistas, nem se acharem gordas, magras, malfeitas, e que a vida feliz não era para elas. A vaidade faz parte da condição humana, a falta dela revela uma vida infeliz e um défice de autovalorização.

A moda levou-me a conhecer mulheres violadas, atormentadas pelos companheiros, mães sozinhas e desamparadas, mulheres atadas a vidas que não desejavam, mulheres fúteis e supostamente felizes que usavam a roupa como um embrulho, uma capa para a sua vida triste. Trabalhei com psicólogos, na autovalorização através da moda, em grupos onde havia mulheres que não se olhavam ao espelho por não gostarem de si, mulheres que nem banho tomavam porque tocar no corpo era sinónimo de repulsa pela violência sofrida.

Sim, a moda é uma chatice! É um conceito que revela tanto: pode trazer felicidade ou tristeza. Pode ser um meio para chegar a um fim, uma arte ou um estado de alma.

 

 

 Texto redigido para o desafio Arte e Inspiração, também participam: Fátima Bento a mentora do desafio, Ana de Deus, Ana Mestrebii yueBruno EverdosaCéliaCharneca Em FlorimsilvaJoão-Afonso MachadoJosé da XãLuísa de SousaMariaMaria AraújoPeixe FritoSam ao Luar.

 

Lugares Mágicos

02.11.21, Olga Cardoso Pinto

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Há lugares mágicos, intemporais, onde o tempo poisou e esqueceu-se de prosseguir.

Este lugar é um berço, aqui sinto que parte de mim nasceu, num vagido ancestral em língua celta em tempos que são de todos nós.

 

ORAÇÃO CELTA

Que a estrada se abra à tua frente. Que o Sol brilhe morno e suave em tua face. Que a chuva caia de mansinho em teus campos. Que um suave acalanto te acompanhe, onde estiveres.
Que as perdas do teu caminho sejam sempre encaradas como lições de vida. Que a música seja a tua companheira de momentos secretos contigo mesmo.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas de tua passagem em cada coração. Que o canto da maturidade jamais asfixie a tua criança interior. Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro.
Que em teus momentos de solidão e cansaço esteja sempre presente em teu coração a lembrança de que tudo passa e se transforma, quando a alma é grande e generosa.
Que a Divindade te guarde nas palmas das suas mãos!

 

Voltarei...

Foto: Aldeia de Pitões das Júnias, vista para a Serra do Gerês.

 

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