Estes foram os 12 livros lidos este ano (acho que me esqueci de dois ou três).
Alguns agradaram-me bastante como "Se com Pétalas ou Ossos" de João Reis e "Rua de Paris em Dia de Chuva" de Isabel Rio Novo, outros foram uma deceção - "Contágio" e "Arrepio". Mas o que me encheu as medidas...claro! O nosso livro de Contos de Natal! Muitas estórias e poesias lindas dos nossos bloggers.
Nas prendinhas de Natal também vieram livros, já li um e iniciei a leitura do segundo, mais tarde darei conta destas leituras.
Votos de um Ano Novo muito feliz, no qual haja muita saúde, felicidade, realizações pessoais e profissionais, celebrações e amizades.
O Natal deveria ser um estado de alma constante, não ser só palavras e trocas de presentes, iluminações e refeições. Há muitos que não são Natal, há muitos que não têm Natal.
Desejo um Feliz Natal (em especial com livros) a todos os meus familiares, a todos os amigos e amigas, amigos (as) bloggers, a quem me visita e lê.
Um beijinho especial para aqueles que são Natal de coração.
“O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá.” Madre Teresa de Calcutá
Os passos ecoaram nas lajes de pedra escorregadias. A viela malcheirosa, escura parcamente iluminada pelos archotes, achava-se deserta sem o pregão dos mercadores, sem gritos ou correrias das crianças. O fumo das poucas lareiras, espiralava pelo ar pesado de frio e humidade. Tudo dormia, até o cão sarnento que por ali se arrastava em busca de um osso ou courato. O céu escuro ora encoberto, ora deixando vislumbrar as cintilantes estrelas, foi riscado pelo trajeto fulgurante de algo que o amedrontou. Estancou contendo a respiração, encostou mais ao peito os pergaminhos que trazia ficando a admirar, incrédulo, para o evento que se desenrolava no firmamento noturno. Parecia que o sol fora arremessado por uma força descomunal, deixando atrás de si um rasto centelhante. Cobriu a cabeça e apressou como pôde o passo até ao templo, correu o ferrolho, esgueirou-se rapidamente para o interior e encerrou a imensa porta atrás de si, ficando encostado a ela um pouco, recuperando o fôlego e o juízo, pensando que afinal sempre se iria concretizar...
O rapazinho há muito que dormia. O ar morno da noite entrava pelo postigo, deixando o cómodo agradável. Sonhava com aventuras sempre acompanhado pelo seu tambor. Sonhava com viagens, mapas e que voava em pleno céu azul, vislumbrando a aldeia, depois a cidade e o mundo, ali bem alto onde só brilham as estrelas e o sol. A gata miou, erguendo-se do aconchego junto dos pés da criança. Ele acordou, sentou-se na cama, esfregou os olhitos e olhou para a janela, atraído pelo clarão vindo do céu. De um pulo foi ver o que iluminava a noite daquela forma. Seria o sol que caíra? Seria uma estrela que perdera o rumo e que se soltara do firmamento?
A divisão estava quente, do forno de boca larga e escancarada via-se o lume que dançava como enfeitiçando as sombras. A jovem limpou a testa transpirada, desviando uma madeixa de cabelo que teimosamente se desprendera do lenço que a prendia. Algo no seu campo de visão a fez deixar a massa para o pão na bancada e levá-la a assomar à porta aberta. Um clarão cruzava os céus noturnos, irradiando uma imensa luz deixando atrás de si um rasto feito cauda como de um dragão. Ela abriu a boca de espanto e recordou as premonições da avó.
O céu do mundo fora atravessado por aquele corpo celeste, incandescente, naquela noite, como em pronúncio de algo que há muito era aguardado. Foram muitos os que o viram, mas poucos os que se importaram e acreditaram que algo grandioso estava prestes a acontecer. Porém, foram muitos que ficaram indiferentes ao seu brilho, ao seu fulgor pela noite, cruzando o mundo, cruzando um planeta conturbado sem paz, com fome, sem liberdade, sem sabedoria e sem compreensão. Só os que esperam, que agem e esperançam é que são tocados pelo fulgor da luz na noite. Assim, os três – o velho monge, o menino sonhador e a jovem padeira aceitaram o desafio trazido por que aquele corpo gelado vindo dos confins do universo. Cada um partiu à mesma hora do seu ponto no planeta, do seu país, da sua casa, levando consigo o melhor que tinham: o velho monge a pena e o pergaminho para escrever, o menino levava o seu tambor que ia tocando ao longo da viagem, a jovem padeira levou os melhores pães de centeio adoçados com passas para apaziguar a fome no caminho. Partiram para onde a estrela cadente os levava, ao destino onde a promessa de felicidade seria realizada, levando o melhor que tinham para oferendar.
A difícil jornada duraria alguns dias de viagem. Após longos dias e noites de caminhada dura, com privação de alimento, agasalho, expostos às intempéries lá se juntaram a uma caravana que teria como destino talvez o mesmo dos três aventureiros. E foi nesta caravana que o monge, o menino e a padeira se encontraram. A humilde comitiva era composta de saltimbancos, artesãos e uma adivinha cega que lia a sina. Seguiam pelas terras que lhes permitiam ganhar a vida, sem dono, sem senhor que os subjugasse, às vezes a fome levava a melhor e roubavam para comer, mas eram livres…e felizes. Ao fim do décimo dia, pelo raiar da manhã, os três acordaram à mesma hora juntando-se à fogueira para comer alguma coisa. Estranhando a coincidência, trocaram as primeiras palavras entre si. Chegando à conclusão de que ambos iriam para o mesmo lugar, o mesmo local onde sonharam ter poisado a imensa estrela que cruzara os céus naquela noite. Mas teriam de ir a pé, pois a caravana seguiria por outro caminho. E assim prosseguiram ao longo de dois dias quando foram assaltados por um bando de malfeitores. Ao monge rasgaram-lhe os pergaminhos vendo que de nada valioso trazia consigo, danificando assim os registos que fizera ao longo da viagem. À padeira comeram-lhe os pães que trazia embrulhados no avental, escapando só um por ser mais pequeno e que escondera junto ao peito, pois anteviu a fome até ao destino. Ao menino obrigaram-no a tocar o tambor incessantemente até lhe doerem as pequenas mãozinhas. Depois gargalhando pelas maldades feitas, cavalgaram nos seus belos cavalos até desaparecerem na linha do horizonte. O dia chegava ao fim. Os três caminhantes estavam desalentados. Perdiam a esperança e a força de chegar ao destino. Mas, como se foram meter nesta empreitada de encontrar o poiso da estrela? Talvez nem o conseguissem, talvez fosse tudo um logro, uma alucinação das suas cabeças. Depois de longamente conversarem, acabaram por adormecer sob um palmeiral frondoso onde não faltavam água e tâmaras, foi o que lhes valeu para acalmar a fome e o cansaço. Dormiram profundamente, sonhando os três o mesmo sonho, o mesmo sono retemperador. O sol escaldante acordou-os e o piar das garças trouxe-lhes a melodia da manhã. Passaram-se treze dias desde que saíram de suas casas. Teriam de se pôr em marcha, a estrela aguardava, mas longe ou perto? Uma das garças levantou voo e parecendo aguardar que a seguissem. O menino reparou nela e chamou o monge e a padeira para que todos a seguissem. Caminharam mais umas horas, e quando já exaustos ponderavam desistir, eis que a garça desaparece nos céus, o final do dia estava próximo. Então um enorme clarão insinuou-se no céu. Os três caminhantes encandeados pela intensa luminosidade, olharam para onde esta intensa luz se estendia. Sobre um tosco curral havia um ajuntamento de pastores. A custo lá se aproximaram afastando ovelhas e cabras que por ali ficaram junto aos donos. O rapaz foi o primeiro a ver, ficando encantado com o quadro que se abria diante dos seus olhos – uma mãe a amamentar o bebé e o pai abraçando a jovem mãe, embevecido, afagando os parcos cabelinhos da criança. Então o menino, querendo oferecer algo àquele bebé que a estrela lhe anunciara, envolveu os frágeis e doridos pulsos com os atilhos das calças e tocou o seu tambor como nunca tinha tocado. A melodiosa e compassada música surgiu fazendo o bebé olhá-lo e sorrir. Um dos pastores juntou-se tocando a flauta de junco que trazia no bolso, era maravilhosa a música que enchia o ar. O velho monge comovido com tamanha beleza, com a singularidade de tal revelação, rasgou a sua veste e escreveu um poema para o menino que ali nascera. Um dos pastores de voz clara e celestial cantou o poema musicado com o tambor e a flauta. A jovem padeira, de olhos rasos de lágrimas, tirou o minúsculo pãozinho do avental e depositou-o na manjedoura, em jeito de oferenda, onde o bebé fora deitado para adormecer, embalado pela música e pelos cânticos entoados pelos pastores e pelos três caminhantes. A noite foi caindo, as estrelas piscando no firmamento. A intensa luz que pairava sobre o curral alargou-se iluminando três vultos que chegavam de oriente, montados nos seus camelos. Todos se afastaram cedendo a passagem. As majestosas figuras depositaram os seus presentes, saudando a todos. A noite ia longa e ninguém arredava pé daquele presépio que crescera. A jovem mãe tomou nas mãos o pãozinho de passas e foi partilhado por todos, dividido em pequeníssimas porções, mas que lhes soube a lauta refeição. A luz intensa, da estrela que pairava iluminando o local, foi subindo, subindo, até ser um ponto de luz lá longe no firmamento celestial, recolhendo à origem. Voltaria certamente um dia, nem que fosse no coração do mais valente e esperançado ser.
Este conto foi escrito para este ano de 2021, respondendo ao desafio Os nossos contos de Natal da nossa querida Isabel, do blog Pessoas e Coisas da Vida. Tornou-se já uma tradição a partilha de estórias alusivas à época, e como sabem foi assim que nasceu a compilação em livro já por aqui amplamente divulgado.
Bjs
E para acompanhar a leitura, a sugestão de uma música de Natal que inspirou este conto, uma música que gosto bastante, desde criança: Little Drummer Boy interpretada pelos for KING & COUNTRY
O nosso livro Contos de Natal esteve em destaque este fim de semana. Como é muito fotogénico fica bem em qualquer lugar. Desde a intimista e gratificante sessão de autógrafos, na mais encantadora vila piscatória e turística de Portugal - a Ericeira; passando pelo magnífico Palácio Nacional de Mafra, de destacar a sua Biblioteca, até chegar finalmente a uma das suas casas - a minha - na bonita cidade da Maia, onde está prometida outra sessão fotográfica.
É uma alegria ter partilhado convosco a escrita destes contos, agora reunida em livro graças ao incentivo dos nossos incansáveis promotores do desafio: a Isabel e o José, aos quais tenho a agradecer a amizade e confiança para ilustrar e participar neste feito.
Partilhem também fotografias dos vossos livros, fotografem-nos nas vossas cidades, vilas ou aldeias, gostaria muito de os ver onde vivem agora, neste contexto natalício. Aceitam o desafio?
Era uma vez na véspera de Natal… Pela cozinha estava tudo desarrumado. Uma ligeira poalha espalhara-se pelo ar, depositando-se languidamente sobre as bancadas, armários e fogão. O lava-loiça abarrotava de utensílios sujos. Taças, talheres e panos. Pela mesa, espalhadas como uma orquestra desafinada, jaziam umas tombadas outras direitas, as mais variadas formas as quais esquecera a sua existência. Um caos! Um horror…e bem junto à banca, encarrapitado no banco - ei-lo! O autor, o conquistador da cozinha que dela se assenhorara e fizera dela o seu troféu! O pirralho que ainda há pouco se revirava dentro de mim, escouceando-me, qual potro, no meu ventre, levando-me à loucura com tanto peso e cansaço. A taça, quase maior que ele, transbordava do que parecia ser massa, cobrindo-lhe como luvas as papudas mãozitas, a roupa, o cabelo e o rosto rosado. Ao sentir-me entrar, revirou aqueles enormes olhos, embelezados pelas longas pestanas e de sorriso de orelha a orelha, disse: — Mamã estou a fazer um doce! Aproximei-me ligeiramente repugnada por tanta bagunça e por aquele ser pegajoso que já se colava à bancada. No entanto, não lhe resisti - a ele, ao sorriso e àquele olhar que me fazia sentir a entidade mais preciosa do mundo. — Ai estás!? E como sabias fazê-lo? — Foi de ver-te fazer. Aprendi a fazer o bolo para ti! Vamos pô-lo no forno? Assenti que sim, pensando que seria um desaire. Como poderia uma criança de cinco anos fazer um doce, um bolo só de ver e ajudar a mãe? Por sua insistência ficámos ambos sentados no chão, em frente ao forno a ver o bolo crescer, sim a farinha já tinha fermento, por sorte! Foi um tempo que achei que seria monótono, mas depois senti que fora uma bênção, aqueles quarenta e cinco minutos ao lado do meu filho a ouvi-lo falar de culinária. A culinária vista por uma criança, os doces que gostava de ver fazer e que jurava que os faria ainda melhor! Tentei mentalizá-lo que o bolo talvez não ficasse como eu o fazia, porém, o rapaz achava que seria tão delicioso como o meu. Deixei-o pensar assim. Estava toda a família sentada à mesa, impecavelmente decorada e com as melhores iguarias natalícias. Olhei de soslaio, a um canto discreto do aparador estava o bolo tosco e coberto de chocolate, simples sem grande brilhantismo para aquela mesa. Depois da refeição colocaram-se os doces. As rabanadas luzidias e perfumadas de canela, o bolo-rei colorido e tentador, o tronco de Natal e tantos outros, ricos visualmente e de sabor… e no meio da mesa o bolo de chocolate! A dominar a mesa de Natal impecavelmente decorada e aprimorada de irrepreensíveis doçarias. Todos se entreolharam pela dominância do parente pobre e desajeitado. Sentei-me, ligeiramente envergonhada. Pouco depois senti a manga ser repuxada e olhei. A meu lado estava o meu filho com um prato e a fatia do seu bolo. — Toma mamã. Quero que sejas a primeira a provar o meu bolo! Provei conformada, para não lhe fazer a desfeita e qual não foi a minha surpresa…o bolo até era bom! — Sabe bem, mamã? Todos estavam em suspenso aguardando a minha resposta. Engoli saboreando e respondi: — Sabe sim, meu querido… E ele tornou, sempre coladinho a mim, sentindo-lhe o calor e o cheiro do cabelo e do hálito infantil: — Sabe a quê? — Sabe a ti. Sabe a amor! — abracei-o intensamente, pois aquele era o melhor doce de Natal. Esta era sem dúvida a melhor receita original do doce de Natal!
Este conto, hoje republicado, foi escrito no ano de 2020, como gosto muito dele decidi participar no desafio da Isabel, do blog Pessoas e Coisas da Vida, deste ano de Os Nossos Contos de Natal de 2021. A Isabel é a "Mãe" desta azáfama de escrita natalícia que se repete, tal como em anos anteriores, resultado: um livro de Contos de Natal recentemente publicado, como podem ver aqui.
O romantismo dos tons de Outono veste a Natureza para o seu tempo de letargia, em descansado repouso sob a frescura das manhãs, das tardes mindinhas e das geadas noturnas.
Como é bela a sua transição, como é magnífica esta pausa onde tudo parece descansar, em suspenso, preparando-se para resplandecer na Primavera.
És o meu Arco Iris, o meu final de tempestade A minha luz da madrugada após a escuridão A minha fonte de água adoçada A minha alegria, a minha emoção
És o desejo feito carne, doce mel de invólucro duro, temperamental És traço afinado, projeto vivo, pintura fresca, feito mural És canto timbrado no silêncio, a voz melodiosa de um recital És o sonho feito vida, a felicidade de uma prenda de Natal
Meu Filho Arco Iris, sempre meus dias a colorir Estendes-te por mim como anunciação Um espectro de luz que se faz refletir Num murmúrio de uma oração.