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A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

O fluir das estações

31.01.22, Olga Cardoso Pinto

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Na alternância das estações vejo o fluir da vida. Sendo que não são iguais, cada uma tem um sentido diferente, com características únicas. Não há estações mais belas que outras, cada uma tem uma beleza particular, uma personalidade própria. O Verão é cheio de energia, cor, entusiasmo, despontam vontades de evasão e liberdade. O Outono é introspeção, de suspensão e pausa, de cores quentes e vontade de refúgio. O Inverno é aconchego, de contemplação, de pausa já a custo, os pequenos dias ensolarados convidam à saída para aproveitar os poucos momentos de luz. A Primavera é aspiração à exuberância, ao acordar da vitalidade, aos planos e projetos. Não estamos sintonizados com elas? Há sempre qualquer coisa que nos encaixa na Natureza, apesar da modernidade das nossas vidas, que nos atrai do mais profundo do nosso primitivo sentir. 

Hoje é um dia de Inverno, amanheceu frio com a geada a cobrir os campos, os carros, os passeios vazios. A chuva anda arredia e que tanta falta faz, porém o sol faz as delícias da passarada que anda espavorida nas árvores despidas, assim como as crianças que correm para a escola deixando-se a saltitar no recreio aos primeiros raios de sol da manhã. E eu observo a singeleza que se depara neste cenário fresco e luminoso. Suporto mal o frio, prefiro o calor, e no entanto cá estou a apreciar uma segunda-feira de Inverno, a apreciar o fluir da vida e a inspirar-me para aprender a contemplar.

 

Foto: Nandina, arbusto.

"Nandina: originária da China e do Japão, onde é vulgarmente conhecida por bambu-celestial ou bambu-do-céu.

Nestes países, a nandina é plantada no exterior, junto da entrada de casa para que, se acordar a meio da noite com um pesadelo, possa sair e contar o seu sonho ao arbusto, que o protegerá de todo o mal. Apesar de a sua folhagem ser semelhante à do bambu, a nandina é um arbusto muito diferente.

As suas folhas são perenes, normalmente de coloração verde, que adquirem um tom avermelhado no inverno, com a chegada das temperaturas baixas. Durante a primavera, a nandina fica repleta de pequenas flores brancas que resultam em frutos vermelhos no verão e outono." - Revista Jardins

 

 

Fotos do meu álbum

Melodia para uma fotografia

28.01.22, Olga Cardoso Pinto

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O Mar em todo o seu esplendor, revolto, agreste e renovador. Todo ele é um "ser" vivo onde existe som, odor, gosto, melodia, cor e tantas sensações indescritíveis...

 

Para ouvir e desfrutar:

HAEVN - The Sea (Symphonic Tales)

 

 

The Sea
Haevn


Sunrays touch the coastline
On the cutter shows the dust
Long nights are gone with the river
The water has been waiting long enough
We float on the river of time
Hold steady, hold steady
The sea comes, calls the summer
Forced out the cold
Don't follow the change of the tides
Hold steady, hold steady
Storm for hours and rainy days
And all our lives we're told
The stream will take us home
Sunrays touch the coastline
Warm our feet, show the glare
We walk through the sand in the warm night
The water will take the weight from us
And all our lives we're told
The stream will take us home
And all our lives we're told
The stream will take us home
We sell our lives to the sea
The sky lights up from the beach

Compositores: Jorrit L. Kleijnen / Albert M. Marijn Meer Van Der

 

Ramifico-me

24.01.22, Olga Cardoso Pinto

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Ramifico-me em mil tendões vegetais, em múltiplas veias de seiva fresca.
Cada parte de mim espalha-se em perpétuos volteares, estendendo-se na procura de solo fértil.
Uma gota de chuva é um oceano de vida, de proliferação, de energia. De mim já nada avisto, só os meus músculos, deles brotam finas folhas tenras. E avanço, avanço cada vez mais. Sem olhos, sem ouvidos ou boca, mas de sentimentos latentes na procura de ir, de continuar. Transponho os obstáculos, pedras, raízes, outros seres que vivem junto ao solo, no chão repleto de vida.
Ramifico-me incansavelmente. Ávida por me multiplicar. Sou agora forte. Nasci de uma minúscula semente, ganhei corpo e tornei-me nesta força vegetal, em constante crescendo como numa música épica.
Chegou o sol afagando-me o corpo. Este corpo de membros dispersos. Vou prosseguindo no meu destino estoicamente. Sinto algo dentro de mim, uma comichão agradável. Há algo a irromper dos meus membros esguios. São flores. Despontam-me as primeiras flores! Que alegria, que orgulho! Sou fruto, aroma e cor. Serei um todo. Sou um ser.
Ramifico-me incansavelmente.

Ramifica-te também

 

Somos como as plantas, basta querer...

 

 

Para ouvir: HAEVN: "No Mans Land"

 

 

No Inverno...

19.01.22, Olga Cardoso Pinto

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Pisco-de-peito-ruivo: o trovador viajante do Inverno. Adorável ave! Singela no tamanho, mas de imensa beleza no porte e no canto. Anuncia dias frios pelos jardins, campos e cidade, trauteando a melodia que alegra quem o escuta. É o mensageiro de boas-novas. Tenta encontrá-lo, ele anda perto de ti.

 

 

Fotos do meu álbum

Querida Cidade Invicta!

18.01.22, Olga Cardoso Pinto

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As ruas sempre agitadas pelo tráfego, num dia de inverno. Um final de dia ou um início de noite. A chuva que caiu transformou as estradas em espelhos onde as luzes artificiais se refletem. O vapor sai-nos das bocas coado pelas máscaras que impedem o contágio. Olho em volta e cada um destes seres envolve-se na escuridão procurando o refúgio de casa. Ao longe, ouve-se música e dou comigo a cantarolar a conhecida melodia. Elevo os olhos ao negro céu, as nuvens dissiparam-se. Vai longe a tempestade. Algumas estrelas se revelam e cintilam intermitentemente. Não há luar. Caminho pelo passeio e deixo-me levar ao sabor da iluminação das montras, dos candeeiros de luzes led. Aconchego o casaco, o frio é húmido. A cidade encanta sob o anoitecer que cai, gelado e insensível. Ao longe, corre o rio, esse manto líquido feroz. A vida noturna ganha cor e vozes junto à Ribeira, em tempos esquissada no meu bloco de papel. Os edifícios de granito parecem crescer com as sombras que os cobrem. Passo rente ao Palácio da Bolsa. Como gostaria de deambular pelo seu interior, ir até ao Salão Árabe. Desço e contorno em direção à Igreja de S. Francisco, a pérola gótica da cidade. Atravesso a rua empedrada, escorregadia, e detenho-me a contemplar o Douro, negro da noite, e o cais de Gaia, a irmã gaiata da margem esquerda. Alongo a vista e desfruto das pontes iluminadas, belíssimas, que levam e trazem gente. Muita gente atravessa o velho rio que é de ouro.
Ó Porto! Do enamoramento, da saudade, das vistas largas sobre o Douro em direção ao mar. Ó Porto! Cascata viva de casario, monumentos, aves e pessoas. Nasceste alcandorado no morro de Penaventosa e cresceste ávido em direção à Ribeira. Tornaste-te porto de nome Cale, orgulhoso e invencível. Ó Porto! Brindamos a ti e às tuas gentes, sempre que se eleva um cálice de Porto, doce e quente que suaviza a alma e alarga o coração!

 

Convido a visitar:

História da Cidade do Porto no site da Câmara Municipal do Porto

Como era o Porto antigamente no site do National Geographic

História do Vinho do Porto

As 15 pontes mais bonitas da Europa da European Best Destinations

WOW - World of Wine

Foto: vista da Ponte D. Luís, a partir do WOW.

 

Boa viagem!

 

 

Pormenores

Flores ilustradas

17.01.22, Olga Cardoso Pinto

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Pormenor de ilustração - cravos túnicos - lindas cores e constrastes numa flor magnífica. É comestível e ótima para as abelhas e borboletas, além de afastar insetos indesejáveis.

A sua simbologia está associada ao deus etrusco Tages (deus da sabedoria) - daí também o nome cravo tagete. Esta flor é sinónimo de ligação à terra, ao bom cultivo, à renovação e fertilidade.

 

 

Sente

14.01.22, Olga Cardoso Pinto

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SENTE

Tudo é ilusão, mentira, engano. Dizes tu convictamente.

Mas o espelho repete a nota e responde: mente, mente, mente…

Tudo é farsa, logro, quimera. Falas eloquentemente sem restrição.

Os teus olhos desenganam e respondem: não, não, não…

O invólucro que vestes como capa que te cobre o sentir,

Leva-te a viver uma vida que mata o senso no mentir.

Desprende as amarras, livra-te desse invólucro que te tolhe o coração.

Vive o sonho, a realidade, dá azos à imaginação.

Olha o espelho, enxerga teus olhos, vê o que é a tua mente.

Deixa bater o coração e ouve-o a dizer: sente, sente, sente…

 

 

Para ouvir: Blow - It's All a Lie

 

 

Amor maternal

06.01.22, Olga Cardoso Pinto

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"A recente mãe mirava o seu pequeno varão, não poderia acolhê-lo, pois seria a sua morte! O amor maternal impedia-a de ficar com a criança, um despaupério para quem não sentiu, entre gemidos e dores atrozes que parecem devorar as entranhas, o broto germinado dentro de si. Chorou longamente, enquanto amamentava a pobre criança em vésperas de ficar órfã de mãe viva. Beijou-o vezes sem conta. Despiu-o e vagarosamente ungiu-o com azeite para o proteger contra os maus espíritos, tal como procedeu com a menina. Memorizou cada parte do seu pequeno corpinho, tão roliço e perfeito! Vestiu-o com extremoso cuidado e aconchegou-o na manta quente. Os olhos do menino abriram-se estranhando, talvez, pela mãe não continuar a beijá-lo e a tocá-lo com tanto amor. Nabica beijou-lhe os lábios e soprou para a sua boquinha, dizendo uma pequena oração encomendando-o aos deuses protetores. Do cordão de couro entrançado, que ela trazia ao pescoço sob a roupa e abrigado entre os seios, tirou um pequeno amuleto talhado em madeira de teixo, o pentáculo protetor, a estrela de cinco pontas, e meteu-o na camisinha da criança, junto ao peito onde vivia aquele rufar de vida e plenitude. Deitou-se com as crianças uma de cada lado, beijou-as e fechou os olhos concentrada no bater do seu coração e nas respirações ritmadas dos filhos recém-nascidos."

 

Excerto do romance "O Abraço do Freixo" por Olga Cardoso Pinto

 

 

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