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A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Fotos do meu álbum

29.06.22, Olga Cardoso Pinto

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Uma fotografia é uma memória suspensa no tempo, num lugar que fez parte de um momento. Esta encerra boas memórias, embora não tendo conseguir captar a essência especial que aqui ainda perdura, traz-me à lembrança a tarde que variou de chuvosa a soalheira, o odor da terra quente beijada pela chuva, da vegetação tisnada pelo sol algarvio, a tepidez do mar e a sensação de paz e liberdade. 

 

Praia da Cacela Velha

setembro de 2021

 

 

Celebrações

24.06.22, Olga Cardoso Pinto

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"O final da tarde chegava de mansinho, mas o sol ainda alto tornaria o dia no mais longo do ano. Lá longe, perto do rio, preparavam-se as fogueiras que seriam purificadoras para quem as saltasse e afoitavam-se as gentes no cozinhar da ceia para festejar o solstício de verão - não podiam faltar o peixe - esse ser do rio - o pão força para o corpo e o vinho dádiva da natureza e transformada pelos homens.
Nabica carregava Brígida ao colo, a seu lado caminhava Dulce que levava na bolsa do cinto a foicinha de prata e no braço o cesto do ritual de colher as ervas medicinais – o manjerico e o visco, tinham-nas colhido ao nascer do dia. Ausinda, mais afastada por não conseguir acompanhar o andar das jovens mulheres, levava no seu cesto papoilas e camomila para queimar como oferta ao sol e a Endovélico, todas elas levavam ao pescoço um lenço amarelo tingido com cascas de cebola. Alegremente cantavam e juntar-se-iam às celebrações sob as copas dos carvalhos com o rio serpenteando por perto. A idosa apreciava à distância as duas jovens, queria-lhes como filhas, e naquele dia sentia-se feliz por ver Nabica, finalmente, a recuperar a sua vivacidade, o seu gosto pela vida e pela filha adorada!
Iam as três animadas, embora Ausinda revelasse algum cansaço, pois fora um dia muito preenchido, como sacerdotisas celtas tinham iniciado as suas atividades dedicadas ao seu culto desde o nascer do dia. Cultuaram as divindades com oferendas e cânticos, em especial a Endovélico pedindo-lhe proteção e saúde, a Lug divindade solar que dá força à terra para gerar as culturas, a Atégina solicitando a sua bondade para com os solos férteis, a Nábia deusa das águas correntes para que estas não faltassem para a terra e a Sucellos para que protegesse a agricultura e as suas amadas florestas. De forma recatada fizeram as suas celebrações, sem sacrifício de animais, há muito que o tinham abandonado com receio de serem acusadas de heresia pela igreja e pelos vizinhos cristãos."

 

Excerto do romance O Abraço do Freixo.

Foto: caminho da Fonte de Águas Santas, Maia.

 

 

Para ouvir enquanto lê: The Cranberries "Why"

 

 

São João rapioqueiro

23.06.22, Olga Cardoso Pinto

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São João já cá canta
A tua festa vai começar
Feita de alegria que encanta,
De rusgas e fogo de pasmar

 

O manjerico é tão verdinho
Que dá regalo ver
Perfumas o ar ao santinho
Nesta noite de prazer

 

É o martelinho, é o balão
A música ecoa no ar
As sardinhas pingam no pão
É noite de foliar!

 

 

Feliz São João!

Imagem: Filipa Brito, no site da Câmara Municipal do Porto

 

O tempo das cerejas

13.06.22, Olga Cardoso Pinto

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E cá estamos novamente no tempo delas! No tempo das cerejas carnudas e doces que explodem na boca melhor que rebuçados. Estas são transmontanas e carinhosamente foram colhidas pelos meus sogros para serem desfrutadas uma a uma, fresquinhas, deliciosas e sumarentas, viciantes e retemperadoras para estes dias quentes de junho. Ao saboreá-las, fico grata à cerejeira que tão delicioso fruto nos dá e lembrei-me deste poema de Eugénio de Andrade, dedicado à cerejeira em flor que maravilhosos frutos produz se o tempo e o cuidar o permitir.

 

 

A uma cerejeira em flor


Acordar, ser na manhã de abril
a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira.

Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz, ou o quer que seja;
sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração duma cereja.


Eugénio de Andrade,
As mãos e os frutos (1948)

 

 

Persistência no retorno

03.06.22, Olga Cardoso Pinto

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Se pudéssemos voltar

ao que já foi,

saltar do futuro para um passado esquecido

Se pudéssemos voltar

atrás,

farias tudo de novo? Sonhos e projetos criados no éter da existência pura?

Se pudéssemos voltar,

voltarias?

Num salto quântico de insanidade ou infantilidade?

Se pudéssemos voltar

voltarias nessa forma de corpo e alma, num despojamento sem fingimentos

Voltarias a ser Tu?

Se pudéssemos voltar 

eu voltaria

numa imperfeição para me talhares nas tuas mãos, retocares a minha essência no novo molde do teu toque e assim permaneceria eternamente

Se pudéssemos permanecer...

 

Para ouvir Linger (versão acústica), voltando aos anos 90 pela linda voz de  Dolores Mary O'Riordan, vocalista dos Cranberries, que partiu em 2018, deixando o registo de inesquecíveis músicas para a posteridade e para recordar.

 

Dia da Criança

01.06.22, Olga Cardoso Pinto

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Haverá algo mais doce do que aquele abraço pequenino de braços tenrinhos, e beijos mais inocentes carinhosamente oferecidos, de uma criança? Especialmente  aquela que nos deixa embevecidos pela sua existência?

Hoje celebra-se o Dia da Criança, para elas o meu mais sincero desejo é que sejam felizes, respeitadas, amadas e protegidas.

Um beijinho imenso para a nossa Diti 💝