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A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Encantos campestres

25.08.23, Olga Cardoso Pinto

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Helénio e Hipericão, a simplicidade e o encanto campestre.

O Helénio está associado à alegria e felicidade, pelas suas cores e forma. Corola bem visível e aberta, sem as pétalas a cobri-la, revela o espírito aberto aos dons da vida. Esta planta usada em jardins, confere um caráter alegre e mistura-se bem com outras flores.

O Hipericão é associado ao místicismo, pois as suas flores só vivem um dia, sinónimo da finidade da vida e dos momentos áureos. O Hipericão é uma erva medicinal, usado em chá para combater a ansiedade e a depressão.

 

 

 

Boas memórias

21.08.23, Olga Cardoso Pinto

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Um momento que ficou congelado numa imagem. Memórias e sensações que perduram para sempre. Evocações de um dia que não volta e não se repetirá. Assim é a fotografia. Bela invenção que nos permite reviver bons momentos, belas memórias fixas num tempo que passou. As fotografias embalam docemente as boas memórias de um tempo que já vivemos.

Gosto muito desta fotografia, retrata um dos caminhos que conduz à Praia de Cacela Velha, Algarve. Além de me trazer à lembrança o maravilhoso dia em que foi tirada, recorda-me recantos, cheiros e paisagens da minha infância.

 

Mais uma foto e um texto, iniciativa da nossa querida Isabel do blog Pessoas e Coisas da Vida, no desafio 1foto, 1 texto.

 

 

Para ouvir: Deep Forest - "Sweet Lullaby"

 

 

 

Qual o caminho?

17.08.23, Olga Cardoso Pinto

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Onde me leva o caminho?

Qual deverei escolher?

Será a escolha certa?

Por onde irei...

Cruzo os mares, atravessos rios, águas ondulantes que me empurram para longe...

Para onde irei?

Ao deserto escaldante, mortal, que me engole e devora a alma...

Seguirei por onde?

Pelos prados, florestas, bosques mansos, verde sem fim...

Qual o sentido? Para onde voltar?

Ao regresso a casa, ao regaço de quem me viu crescer...

 

 

Para ouvir: Haevn - Where did you go

 

 

Leituras de verão

09.08.23, Olga Cardoso Pinto

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"O verão revelou-se abrasador, dias quentes que consumiam as energias, o alimento e a água. O ribeiro ia ralo, aos poucos as ervas e as plantas morriam, deixando o campo manchado com o tom da seca.
Os animais, as plantas e todos os seres gritavam por água! Então, o velho Freixo condoído pela dor dos amigos e de todos os seres, abriu a boca larga e cantou… a melodia envolveu o ar, redopiou e foi levada pela brisa até às nuvens. Como ordenadas e comandadas por uma forte vontade, as nuvens juntaram-se, formando grandes almofadas cheias de água, com chuva prestes a cair dando de beber à terra e ao ribeiro ávidos, sequiosos daquela água límpida e retemperadora.
Os Homens nada viram assim, a chuva providencial de onde viera? Salvaram-se as reservas de água, os campos e os futuros cultivos. Abençoada chuva!
Os animais estavam admirados. O seu amigo Freixo tinha poderes mágicos! Conseguira fazer chover, salvando-lhes a vida.
Foi então que naquele final de tarde, uma criança de andar vacilante veio sentar-se debaixo da frondosa árvore, abrigando-se da chuva que caía copiosamente. Trazia consigo um caderno e começou a desenhar ao mesmo tempo que cantarolava uma melodia que o Freixo reconheceu. Bateu-lhe forte o coração de árvore, ribombou no mais recôndito do seu ser, aquele músculo que bombeava a seiva para que vivesse eternamente. Ficou tentado e tocou-lhe ao de leve nos cabelos e ela sentindo, olhou para cima e sorriu. Depois, virou para ele o desenho e disse-lhe:
— És tu! Gostas? – sorriu novamente, dando vida às covinhas que tinha nas bochechas.
Os bichos estavam todos intrigados, escondidos entre os ramos e na vegetação que ladeava a árvore. A menina ouviu o restolhar e chamou, sem medo, divertida por ali estar. Os coelhitos, os esquilos, as cobras e tantos outros, foram ter com ela, primeiro hesitando, a medo, mas a criança estendeu-lhes as mãos papudas, cheiravam a alfazema e alecrim.
— O sol já voltou, posso ficar mais um bocadinho? – perguntou ela ao Freixo.
Ele respondeu-lhe com um aceno de copa. E ficou quase até à noitinha, desenhando e brincando em volta do Freixo, apanhando algumas ervas tentando os gulosos coelhos e esquilos que, entretanto, se revelaram e corriam em brincadeiras tontas. Depois abraçou a árvore e disse-lhe:
— Amanhã volto! Posso?
Ele, mais uma vez, afagou a cabeça da criança, mas nada respondeu para não a assustar."

 

Excerto do conto Histórias de Uma Árvore, inspirado no centenário freixo que ainda vive no largo fronteiro à Igreja de S. Romão de Vermoim, na cidade da Maia. A árvore terá sido plantada pelos monges do mosteiro de Vermoim, fundado no século X, contudo este mosteiro já não existe há muito, mas o freixo que terá mais de 600 anos, sobrevive apesar de tudo.

Podem ler a notícia de 2007, referente a esta magnífica árvore, no JN aqui.

 

 

O musgo e a pedra

07.08.23, Olga Cardoso Pinto

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O musgo de quem está parado.

O musgo que cresce naquele que não sai do lugar, que não procura a mudança, que vive só em pousio do espírito e do estar.

O musgo grela pausadamente, alonga-se como cabelos naqueles que se fazem pedra, duros que não se conseguem mexer. Para ali estão, quedos e mudos como a imponente rocha, roliça sem rolar, temerosa pela avalanche dos acontecimentos.

O musgo cresce e invade cada superfície da pedra quieta. A ele também se agarram outros que querem viver, ascender, fazerem-se grandes.

O musgo é fofo e nele habitam tantos seres e criaturas, todos envolvem a rocha, num conforto de prazer e quietude perfeita como um ninho. O não sair do lugar torna-se costume e então o musgo cobre-a. A pedra, a rocha imponente, já não é mais do que um campo de líquens que nela fizeram o seu lar. Crescem. Crescem rasteiros, dando-lhe forma à sua vontade.

Se a pedra se movesse, sacudiria o musgo e os restos de vegetação que a cobrem. Se rolasse por ali fora, criava um estridor à sua volta, despertando quem dormia, contagiaria todos no seu rolar. Todos em movimento ensurdecedor, mudariam a paisagem, criariam novas formas, sustentariam outros seres. Seriam campo de mudança...

 

 

Respondendo ao Desafio de Escrita da nossa querida Isabel "1 foto, 1 texto",do blog Pessoas e Coisas da Vida

 

 

Mistérios...

03.08.23, Olga Cardoso Pinto

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O casal acercou-se da árvore. Encostaram o peito, o rosto e as mãos nuas ao áspero tronco, sentiram, então, um estremecer leve que foi ganhando cada vez mais força num rufar ritmado. O corpo quente da árvore vibrava em sintonia com o bater dos seus corações. António e Celeste entreolharam-se e deram as mãos continuando a envolver a aveleira. A passarada agitada esvoaçava e chilreava amiúde, fazendo as copas lá em cima restolharem como se fossem rajadas de vento.
Um som seco fez-se sentir de dentro da aveleira, como um rasgar de fibras lenhosas. Celeste tremia, o rosto roborizado transpirava e António sentiu a sua mão humedecida pelo suor da esposa. Não entendia o que se passava, ou antes era-lhe difícil compreender, mas o seu coração sabia o que estava a acontecer!
Quando o tronco se abriu numa fresta e odores frescos de madeira nova se escapuliram para perfumar a brisa, Celeste emitiu um som gutural. Um vagido de criança eclodiu e encheu de som o silêncio florestal. A idosa introduziu as mãos na pequena fenda, que se abrira, e retirou um recém-nascido envolto em heras e musgo viçoso. António, estupefacto, olhava a criança que era ajeitada no colo da idosa e que continuava choramigando pelo recente nascimento, pela intensidade da luz que lhe cobria o rosto e o corpinho nu, alvo em cor e inocência.
Celeste cobriu a criança com o xaile e beijou-a na boquinha rosada, proferindo uma oração, um encantamento que o marido desconhecia, ele mecanicamente tocou-lhe na pequena cabeça e abençoou a sua vinda a este mundo, depois ambos beijaram a menina que calidamente adormecera no colo da idosa mulher.

 

Excerto do conto "Avelina", por Olga Cardoso Pinto

Pode ler mais deste conto aqui

 

 

Agosto chegou!

02.08.23, Olga Cardoso Pinto

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Agosto vem vestido de flores, coberto de sol e perfumado de mar. Espraia-se na costa, acariciado pela brisa oceânica e frescamente batido pelas ondas frias. Corre pelos campos, sentindo o cheiro do centeio e do trigo maduro, na demanda pela revigorante água dos regatos onde vai beber e refrescar-se do estio.

Agosto é alegre, dança e canta no arraial, enche-se de graça e de preguiça no tempo de descanso e regozijo. Ouve melodias e cantos trigueiros, de gente e de aves que mansamente acordam com o fresco da manhã. As tardes são tórridas, de sol abrasador. As sombras dão abrigo aos gentios e bicharada que foge da canícula. As noites, amenas, dão recobro ao corpo e ao espírito para se encontrarem com as velhas estórias desfiadas pelas mãos e pela boca da velha da aldeia. Na cidade, a noite é encantada pelas luzes, pela música e odores a grelhados que lentamente amolecem no calor do carvão. Na ruralidade ou na urbanidade, o corpo é dolente, de pele tisnada, de roupa fresca e cheiro a sal.

Agosto chegou!

 

 

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