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"O verão revelou-se abrasador, dias quentes que consumiam as energias, o alimento e a água. O ribeiro ia ralo, aos poucos as ervas e as plantas morriam, deixando o campo manchado com o tom da seca.
Os animais, as plantas e todos os seres gritavam por água! Então, o velho Freixo condoído pela dor dos amigos e de todos os seres, abriu a boca larga e cantou… a melodia envolveu o ar, redopiou e foi levada pela brisa até às nuvens. Como ordenadas e comandadas por uma forte vontade, as nuvens juntaram-se, formando grandes almofadas cheias de água, com chuva prestes a cair dando de beber à terra e ao ribeiro ávidos, sequiosos daquela água límpida e retemperadora.
Os Homens nada viram assim, a chuva providencial de onde viera? Salvaram-se as reservas de água, os campos e os futuros cultivos. Abençoada chuva!
Os animais estavam admirados. O seu amigo Freixo tinha poderes mágicos! Conseguira fazer chover, salvando-lhes a vida.
Foi então que naquele final de tarde, uma criança de andar vacilante veio sentar-se debaixo da frondosa árvore, abrigando-se da chuva que caía copiosamente. Trazia consigo um caderno e começou a desenhar ao mesmo tempo que cantarolava uma melodia que o Freixo reconheceu. Bateu-lhe forte o coração de árvore, ribombou no mais recôndito do seu ser, aquele músculo que bombeava a seiva para que vivesse eternamente. Ficou tentado e tocou-lhe ao de leve nos cabelos e ela sentindo, olhou para cima e sorriu. Depois, virou para ele o desenho e disse-lhe:
— És tu! Gostas? – sorriu novamente, dando vida às covinhas que tinha nas bochechas.
Os bichos estavam todos intrigados, escondidos entre os ramos e na vegetação que ladeava a árvore. A menina ouviu o restolhar e chamou, sem medo, divertida por ali estar. Os coelhitos, os esquilos, as cobras e tantos outros, foram ter com ela, primeiro hesitando, a medo, mas a criança estendeu-lhes as mãos papudas, cheiravam a alfazema e alecrim.
— O sol já voltou, posso ficar mais um bocadinho? – perguntou ela ao Freixo.
Ele respondeu-lhe com um aceno de copa. E ficou quase até à noitinha, desenhando e brincando em volta do Freixo, apanhando algumas ervas tentando os gulosos coelhos e esquilos que, entretanto, se revelaram e corriam em brincadeiras tontas. Depois abraçou a árvore e disse-lhe:
— Amanhã volto! Posso?
Ele, mais uma vez, afagou a cabeça da criança, mas nada respondeu para não a assustar."
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Excerto do conto Histórias de Uma Árvore, inspirado no centenário freixo que ainda vive no largo fronteiro à Igreja de S. Romão de Vermoim, na cidade da Maia. A árvore terá sido plantada pelos monges do mosteiro de Vermoim, fundado no século X, contudo este mosteiro já não existe há muito, mas o freixo que terá mais de 600 anos, sobrevive apesar de tudo.
Podem ler a notícia de 2007, referente a esta magnífica árvore, no JN aqui.
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