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A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Saborear o momento

29.01.24, Olga Cardoso Pinto

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O bom tempo atrai-nos. Leva-nos a sair, a explorar, a perdermo-nos por aí, para olharmos as flores que despontam numa urgência em aproveitar o sol e a temperatura amena. Desafia-nos a calcorrear caminhos, sejam eles desvendados ou conhecidos, num vislumbre de uma epifania. Somos como os gatos que aproveitam para se espreguiçarem languidamente ao sol de primavera, deixando-se ficar adormecidos em adoráveis poses. Somos como as abelhas que, sentindo o odor deliciosamente melífero, vão de flor em flor provando as suas iguarias sem nunca se demorarem. Somos como as aves que chilreiam num prenúncio de bons ventos e energias, poisando em cada ramo como numa nova casa. Somos ávidos em sentir a pele nua numa primavera antecipada, de deixarmos o mundo girar atrás de nós e ficarmos retidos pelo tempo da contemplação e de saborear o momento...

 

Votos de boa semana!

 

A Flor

22.01.24, Olga Cardoso Pinto

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"Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!"

 

Almada Negreiros

 

 

O Tempo

17.01.24, Olga Cardoso Pinto

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O Tempo vai fluindo pelos caminhos do mundo, sem nunca retroceder, tal como o rio que não passa duas vezes no mesmo lugar. Na infância tudo é lento, sem o Tempo a cronometrar. Os verões são imensos em brincadeiras de dias ensolarados, longos como o fio do Tempo. As noites são preenchidas por sonhos coloridos de fantasia. Depois, o Tempo ganha asas na adolescência, tudo parece desenrolar-se sem o nosso controlo. O Tempo é pouco para tantos afazeres, tantas paixões, tanta avidez de vida. As voltas do mundo e do Tempo, levam-nos para as responsabilidades da adultez, as obrigações, os compromissos. O Tempo escapa-se pelos dedos, esvai-se como areia, nos dias de serenidade das pausas do trabalho. Corre, esse Tempo apressado, pelas ruas da cidade sem se refugiar em labirintos do espaço, envolve-nos nas horas dos dias que num ápice vão da manhã à noite.
O Tempo é matreiro e engana-nos, mesmo quando nos vemos ao espelho. Parece que ainda há pouco éramos crianças, em bicos de pés tentando pentear aquela madeixa de cabelo rebelde que teima em não ser amansada, e agora vemos as rugas, os cabelos brancos, a expressão, que nos deram outro rosto. Outra aparência de uma vida cujo senhor é o Tempo que corre sem abrandar...
O Tempo corre como um rio em direção ao mar, flui eternamente sempre no mesmo emanar. Nós é que o fazemos correr, numa ânsia de tudo abarcar com o receio de perder o destino desta viagem.

 

Foto: Ponte de Eixões sobre a Ribeira das Rodas, Campo do Gerês.

 

 

Para ouvir enquanto lê: The Alan Parsons Project - Time. Uma boa memória da excelente música desta banda dos anos 70/80.

 

 

 

Fotos do meu álbum

12.01.24, Olga Cardoso Pinto

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Caminho líquido,

Onde deixo mergulhar a imaginação, de tempos idos, de uma recordação. De uma recordação de quem fui, de quem hoje sou. A inspiração nasce e flui numa braçada, de mergulho profundo até às profundezas da divagação.

Neste texto corrido, divago em poesia, conto de memória esta emoção, esta alegria. Um momento singular de estar contigo, sem tempo nem lugar, apenas te desfrutar, te sentir, ser amigo.

Levei comigo as almas de quem já voou, numa lembrança de quem foram, de onde venho e para onde vou. São legados eternos, não só imaginação, são bordados intricados que unem a criação.

Fica para sempre, em retrato guardado, um encontro intemporal, num abraço apertado, este lugar, caminho líquido feito para mergulhar.

 

Foto: Branda da Aveleira, Melgaço. 

 

 

Antiguidades

11.01.24, Olga Cardoso Pinto

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A Porta


Encerras segredos por revelar
Austera e fria descuras o tempo
Que por ti teima em passar

Nada revelas, implacável guardião
Somente o musgo, o desgaste de eras
Que patina a pele e o teu coração

Guardiã de mistérios por revelar
Encerrada ao mundo que gira
Que circunda o sol sem nunca abrandar

Ali estás, robusta presença, impenetrável
Adornada outrora de brilhante cor
Jazes hirta, resiliente, inigualável
Carente de afeto, atenção e amor.

 

 

Foto: porta de acesso à igreja do antigo convento de Santa Maria de Bouro, pelo claustro da atual Pousada do Mosteiro de Amares.

 

 

Inspiração

09.01.24, Olga Cardoso Pinto

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No correr do rio agreste, o rei sol lava-se da neblina que o tenta nublar. Insinua-se no firmamento no desfiar de mais um dia. Reflete-se até findar no manto de água marinha. Recolhe-se, finalmente conformado, para dar a luz à noite, senhora penumbrosa de brilho enfeitiçante. Lua mestra dos segredos, sedutora dos sonhos, sussurradora de silêncios.

Sol e Lua, amantes eternos que só se tocam no raiar do dia e desvanecer da noite.

 

 

Foto: Praia da Malheira - rio Homem, Sabariz, Vila Verde

 

Para ouvir, enquanto lê: Scott Buckley - This too shall pass