Contos de Natal 2024
Onde está o Menino?
Este ano, por andar ocupada com variadas tarefas, a minha inspiração fraquejava na hora de pensar no Conto de Natal, mas numa bela tarde de há poucos dias, a Diti, a minha neta de 4 anos, pôs-se a admirar o presépio e ... A Diti é mesmo a minha musa.
Onde está o Menino?
A estrela cruzou o céu, deixando um rasto de luz brilhando na escuridão do firmamento. O som que trouxe parecia o estalar de um chicote, seco, ribombando no silêncio da noite. As três silhuetas montadas olharam-na, vendo desaparecer o sinal que lhes fora prometido. Os pastores, que já caminhavam há muito, seguiam a estrela desde que a avistaram. Eram muitos a fazer o percurso em busca do lugar onde se daria a luz ao mundo. Velhos, jovens, crianças, gente de todas as condições e até animais, caminhavam deixando um rasto de poeira que se evolava juntando-se à poeira celeste daquela estrela cadente, bela e misteriosa.
Lá longe, a estrela deteve-se como por magia, pairou no ar parecendo um semáforo, iluminando intensamente, quase cegando quem a olhasse de frente, um lugar. Todos os caminhantes se entreolharam comentando se iriam chegar ao destino em breve, seria lá onde a estrela parou.
A noite já ia alta quando chegaram. Uma gruta, escavada num penedo imenso, doirada pelo luar da estrela, abrigava um burro, uma velha vaca e algumas ovelhas, todos ruminando à luz da candeia. Uma manjedoura cheia de palha fofa encontrava-se acomodada ao fundo deste simples abrigo.
O restolhar de asas obrigou os caminhantes a olharam para cima, era um anjo! Todos espantados por tal aparição e alguns medrosos, recolheram-se para o interior da lapinha.
- Não tenham medo. Sou o anjo do menino. Chamo-me Gabriel...
Um pastor mais destemido, saiu e disse:
- A estrela trouxe-nos aqui...
- Sim, é a estrela de Belém. Enviada para vos trazer a conhecer o menino.
- Um menino? As profecias diziam ser um homem justo, o filho de Deus, o Rei dos reis...
- Sim, é ele mesmo.
- Mas, ainda é um menino? Que fará ele por nós se ainda é uma criança?
- Pois é uma criança que nos pode trazer muito e ensinar...basta saber escutar.
O pastor coçou a cabeça confuso. Já todo o grupo estava cá fora, ouvindo e comentando cada palavra proferida. Entretanto, os três reis magos chegaram. Novamente a indignação de encontrar o lugar vazio das figuras principais.
- Onde está o Rei? Viemos de longe, caminhamos há muito para aqui chegar, guiados pela estrela.
- O menino desapareceu... - disse o anjo.
- Ohhh! - fizeram todos em uníssono.
- Não pode ser!?
- Quem o levou?
- Ninguém sabe. - respondeu o anjo Gabriel – Quando aqui cheguei o menino dormia placidamente nas palhinhas, a Maria descansava do parto, o José recolhia as ovelhas para junto do burro e da vaca para aconchegarem o menino...e depois eu também adormeci. - Gabriel baixou os olhos, envergonhado pela sua humana falha.
- E quando foi isso? - indagou Belchior zangado.
- Não sei, como adormeci perdi a noção do tempo. Quando acordei, a Maria e o José andavam
loucos à procura do menino. Fiquei aqui para vos receber quando chegasse a estrela.
- Parece impossível! Uma situação desta importância e o menino Rei desaparece! - ripostou Baltazar vermelho de zangado.
- Bem, já que aqui estamos vamos descansar também e comer alguma coisa! - disse uma mulher avantajada que saiu do meio da populaça. Poisou no chão um enorme cesto cheio de pão, queijo, figos secos e alguns odres de vinho.
- Eu vou procurar o menino, se alguém quiser vir que se junte! - anunciou o pastor que tinha estado à conversa com o anjo.
Depois de comerem alguma coisa, saiu um grupo de homens, mulheres e crianças, entusiasmados pela demanda de encontrar a criança misteriosamente desaparecida.
Baltazar, Belchior e Gaspar desceram dos camelos. Traziam consigo grandes alforges, de dentro tiraram uma tenda, tapetes, víveres e uma parafernália que nunca mais acabava. Gabriel, do alto do presépio, olhava interessado, interrogando-se como cabia aquilo tudo nos alforges e depois lembrou-se que eram magos estes reis, claro!
O dia ia nascendo. O céu ia-se iluminando pelo astro, também ele rei. Mas, a estrela pulsava vivamente, sem perder o seu brilho intenso. E do menino nem sinal.
Aos poucos a multidão ia acordando, e ,entretanto, iam chegando cada vez mais caminhantes conduzidos pela estrela, vindos de todos os cantos do mundo. Quando iam sabendo das notícias, todos ficavam indignados pelo desaparecimento do inocente menino. Alguns até alvitravam se não teria sido raptado pelo Rei Herodes.
- O menino desapareceu! Valha-nos Deus! E agora o que será de nós?! - carpiam algumas mulheres, juntando-se para orar pelo menino.
O dia foi passando e o sol rolou pelo firmamento, voltando-se a deitar. José e Maria voltaram exaustos. Do menino ainda nada. Maria chorava sem consolo, José abraçou-a e beijou-a dizendo:
- Vamos ter fé, Maria. Deus saberá...
- Ó senhores reis magos e anjo, então vocês que sabeis de mistérios e magias, não adivinhais onde estará a criança? - perguntou a mulher do pão.
- Sim! Digam lá...façam alguma coisa...estão aqui tão bem acomodados! Uns na tenda o outro no alto da lapinha...
- Não nos é permitido adivinhar nem visionar o que terá acontecido... - respondeu Gaspar, tossicando para aclarar a voz. - Somos magos, só tivemos a visão da estrela e deste lugar, o que aqui aconteceu nada vimos.
- Eu sou o mensageiro enviado por Deus, não tenho visões nem magias... - desculpou-se Gabriel incomodado. - E já voei à procura, enquanto todos vocês dormiam.
A noite acomodou-se de mansinho, acenderam-se as lamparinas e as fogueiras, que a hora era da janta e do descanso...e o menino sem aparecer. Maria e José pouco comeram, adormecendo nos braços um do outro, exaustos e desgostosos.
O cheiro a petiscos, a doces de canela e guloseimas invadiu o presépio. Gabriel sacudiu as asas e levantou-se, dormira a sono solto, sem sonhos nem pesadelos. Esfregou os olhos e bocejou. Era manhã...e que cheirinho andava no ar! Todas aquelas figuras acordaram, reconfortadas pelo sono e pelos perfumes natalícios que bailavam por ali. Até o José e a Maria despertaram, de nariz no ar.
- Que cheirinho a rabanadas, bolo rei, licores...até cheira a azevinho!
Estavam todos embriagados com os magníficos cheiros, quando ouviram um choro vindo da manjedoura. O menino voltara! Uma pequenina mão, papudinha e de dedos torneados, envolvia o menino, deitando-o suavemente nas palhinhas. Correram todos para ele, sendo Maria e José os primeiros, admirados pelo milgroso retorno, dando graças a Deus. Maria envolveu a criança no colo, beijando-o sofregamente... e então, ouviu-se uma voz lá do fundo:
- Diti, deixa o menino Jesus e anda comer uma rabanada!
- Ó 'vó, eu gosto de brincar com o presépio...mas gosto muito do menino, até dormi com ele aconchegadinho na minha almofada!
Encontram os maravilhosos Contos de Natal deste ano, cheiinhos de boas estórias, todos reunidos no blog da Isabel, a "mãe" desta fantástica ideia que todos os anos ganha cada vez mais participantes.
Boas leituras e Feliz Natal