A Cor da Escrita

Enquanto o mundo agitado fica lá fora, num apagão que faz revelar a fragilidade da vida moderna, o rio corre ligeiro num murmurejar energizante, a brisa sopra fazendo dançar as copas das altas árvores, as aves rasam a água fresca reconfortante, o zunir das abelhas azafamado em volta das flores silvestres que atapetam os caminhos, o sol brilha ali no firmamento azul...tudo está como deveria, como sempre foi, alheio à civilização que nos traz neste rodopiar constante entre obrigações, ecrãs, redes sociais, comunicação, notícias e frenesim. Aqui carreguei a minha energia, fez-se luz no apagão das horas e registei mais um dia no calendário da minha frágil existência.

Caminhos rurais, por onde anda a paz e a tranquilidade de dias solarengos, sem sons humanos, somente o restolhar dos nossos passos, a brisa que corre levemente sobre os  cabelos e a felicidade de estar aqui.

Caminhos rurais por onde se perdem as nossas almas e seres, composições abstratas de vontades e persistência no retorno, no refazer e sonhar...

Perdemo-nos nestes caminhos feitos de terra, rios e verde imenso, onde se encontram os nossos passos marcados em solo fértil, as nossas mentes e poesia para recordar que ainda somos daqui. Caminhos onde encontramos o sentido da vida, num caminhar compassado, sereno como a luz e a paisagem que os ladeiam.

Queridos caminhos rurais minhotos, que não nos viram nascer nem correr, mas que nos acolhem, vindos da cidade agitada, de longe, de uma oceano cruzado à pressa, deixando tudo para trás, de recomeços e força. 

Há em cada fibra do nosso corpo um apontamento ancestral, uma ligação a estes caminhos, carreiros, veias e capilares de solo e água que ainda correm dentro de nós.

Foto: um caminho secreto, algures no meu coração.

O post de hoje é muito especial, a nossa gatinha celebra 20 anos! Sim, 20 anos! Uma vida. A Cookie é a nossa companheira, em especial dos meus filhos, hoje homens barbudos que cresceram com esta bela felina. 

Adotada em pequenina, foi mimada e tratada sempre como membro da família, sofreu uma aparatosa queda, mas agarrou-se à vida cheia de amor e cuidados. Atualmente, já acusa o peso da idade, sem deixar de dar os seus sprints pela casa e deixar-se relaxar o resto do dia. Está mais dorminhoca e cantadeira, mia em tons de barítono intercalado com tenor, uma categoria, talvez por causa da surdez mie assim, porém é um regalo vê-la miar em tom de mimo quando alguém lhe faz um carinho, enquanto se estende ao sol.

Hoje, dedico-lhe este post e a pequena estória que escrevi para ela, em agradecimento aos anos que vive connosco, abrilhantando os nossos dias e emoções, lembrando-nos que a família é todo aquele que nos dá e retribui amor.

Parabéns Cookinha!

Cookie Rinhonha

A Gata Cookie Rinhonha
É uma doçura parecendo gente
Sempre esbelta e nada panhonha
Sem nunca ter usado pente

À janela gosta de estar
No seu ripanço felino
Também gosta de dormitar
Correr e fazer o pino

Certa noite curiosa
Atreveu-se a espreitar
Saiu para o parapeito temerosa
E a lua quis apreciar

Deliciava-se com a vista
As estrelas brilhando
O ar quente trocista
E ela sempre espreitando

Abeirou-se sem cautela
E o equilíbrio perdeu
Caindo da janela
E quase morreu

Valeram-lhe os mimos e grandes cuidados
Esteve no hospital com ferimentos complicados

Hoje corre ligeira
Mas de patinha no ar
Nunca acaba a brincadeira
Só às vezes para descansar

A valente gatinha
Descansa agora a meu lado
Deitada na sua caminha
Ouvindo o conto que lhe é dedicado.

Magnólias em flor

É maravilhoso ver as árvores coroadas de flores. Despidas de folhas, de galhos nus e retorcidos, abraçando o espaço em direção ao céu, singelas e despojadas, contudo belas, cobertas de lindas flores majestosas, dando as boas-vindas à Primavera.

Estas da fotografia, já estão em fim de ciclo, mas continuam a embelezar e a perfumar.

Boa semana, desfrutando o sol de Primavera