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A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

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A Árvore da Vida

11.01.23, Olga Cardoso Pinto

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Ela ergue-se no umbigo do mundo. Eleva-se esplendorosa em direção ao céus, passados, presentes e futuros. Do alto da sua existência, contempla silenciosa o amanhecer das épocas até ao seu arrebol. Ela é a presença omnisciente, douta sabedoria de todos os tempos do mundo.
Senhora o que vês? Pergunto-lhe, consternado ao ver as suas folhas caindo, cobrindo o solo sagrado. Um leve restolhar embala-lhe os braços, desnudados e rugosos que se levantam ao céu anilado, esmaecido aqui e ali de nuvens brancas. Um bando de garças cruza o firmamento. Eu contemplo-as. De voz rouca, volto-lhe a perguntar. Ela nada responde, somente chora. Do corpo robusto, que se divide em entrançados que a vida lhos fez, que a sina lhe ditou em forma áspera mas quente, de cheiro seco perfumado pela madeira de sândalo, de luar e de mistério; brotam gotas. Não sei se estas gotas são de choro, suor ou de orvalho. Esta água purificada nas suas entranhas ancestrais, derrama-se no solo escuro e frio e corre como veredas por ele até se aninhar num covo mendinho. Daí a instantes crescem, como um milagre, retorcidos rebentos tenros de verde luminoso. O chão fica pontilhado deles.

A brisa mansa sopra despenteando-me o cabelo. Continua em remoinhos invisíveis e volteia pelos rebentos que estremecem de emoção. Ao serem tocados em jeito mimoso e atrevido, soltam minúsculos esporos luminosos que se espalham pela Terra, levados pelo Mistral, Siroco e Foehn, os irmãos ventos que correm este imenso planeta. Inspiro e transporto-me com eles, deixo a Senhora, a mãe, a sagrada árvore da vida detentora da criação, da fecundidade e da imortalidade deste mundo. Ficará ali eternamente, pelas épocas que se retorcem de existências, aguardando que um dia a sabedoria dos Homens retorne para si…

 

Para ouvir enquanto lê: "There Was a Time" de Scott Buckly

 

 

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