Cem anos de Sophia
Em comemorações do centenário de Sophia de Mello Breyner Andresen, transcrevo as palavras lindamente contadas e que me parecem ser o seu retrato.
"Com as mãos tocando a parede branca, Joana respirou docemente. Era ali o seu reino, ali na paz da contemplação noturna. Da ordem e do silêncio do universo erguia-se uma infinita liberdade. Ela respirava essa liberdade que era a lei da sua vida, o alimento do seu ser.
A paz que a cercava era aberta e transparente.
A forma das coisas era uma grafia, uma escrita. Uma escrita que ela não entendia mas reconhecia.
Atravessou a sala e debruçou-se na janela aberta em frente do puro instante azul da noite.
As estrelas brilhavam, íntimas e distantes. E pareceu-lhe que entre ela e a casa e as estrelas fora estabelecida desde sempre uma aliança. Era como se o peso da sua consciência fosse necessário ao equilíbrio das constelações, como se uma intensa unidade atravessasse o universo inteiro."
Histórias da Terra e do Mar: o Silêncio
Sophia de Mello Breyner Andresen