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A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

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Escrita ficcionada

08.10.21, Olga Cardoso Pinto

orquideas brancas.jpg

 

"No consultório, o sol espraiava-se radioso pela janela, alongando os seus raios pelas paredes brancas, esgueirando-se pelas sombras do mobiliário e brincando com o reflexo da jarra de orquídeas sobre a mesa.

     Júlia entrou e cumprimentou os pais, evitava olhá-los nos olhos, sentia-se constrangida, nada habitual em si. Era o momento, a situação e a tragédia que ela via espelhada na tela de uma realidade surreal. Desceu as persianas e sentou-se de costas para o quadro pintado de sol e manhã na janela da divisão.

     Após uma breve conversa de apresentações, o casal explanou o óbvio. Júlia já não sabia como responder sem ferir aqueles corações, aqueles pais esperançosos que o seu dinheiro comprasse a vida do único filho. Nem a ciência, nem as religiões o tinham conseguido…

     — Lamento. Entendam, por favor. Não é uma questão de dinheiro. Não conseguimos encontrar a solução. Não há vacinas, nem medicamentos, nem falta de vontades…perdoem-me ser tão direta e crua. Mas nada posso fazer…

     A jovem mãe ocultou o rosto com as mãos, soluçava descontroladamente. O marido de olhos baixos e vazios, tinha os braços caídos sobre as pernas. Fruto de uma última força, numa réstia de esperança, ele tirou da carteira uma foto do seu filho e colocou-a na secretária frente à pediatra. Júlia num gesto rápido afastou-a de si e balançou a cabeça em jeito de negação. Num relance vira um rapazinho ruivo, de sardas que lhe enfeitavam o rosto traquina… desejou nunca o ter visto!"

 

Excerto do romance de ficção "10" por Olga Cardoso Pinto

 

 

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