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A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

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Escrita ficcionada

09.02.22, Olga Cardoso Pinto

 

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"O dia raiava soalheiro. O nascer do sol acordava o jardim e os primeiros pássaros a despertarem chilreavam o seu regresso, ainda eram poucos, mas a passarada estava de volta. O laranja do astro rei espraiava-se no azul do céu de outubro. A janela da cozinha de Eva refletia os primeiros raios de sol deste novo dia, mas por detrás dela não se vislumbrava o vulto da mulher, que adorava ouvir às primeiras horas da manhã o chilrear dos pássaros, enquanto tomava a sua chávena de café. A casa estava silenciosa, ouvia-se somente um discreto rumor vindo do quarto de casal. Jo estava sentado na beira da cama com o casaco de malha de Eva nas mãos, levou-o ao rosto banhado pelas lágrimas, tentou encontrar o odor do seu perfume, da sua pele ... encontrou alguns cabelos e ficou a olhá-los e lembrou os momentos próximos em que a esposa já sem o seu lindo cabelo, cobria a cabeça com o lenço de seda que ele lhe oferecera. Depois, veio-lhe à memória os tempos em que deixaram a cidade e se refugiaram naquele lugar, naquela vila ditosa que os acolhera e os acarinhara. Agora tentava encontrar forças para viver! Viver sem a sua querida amada. Viver pelos seus filhos, tinha uma menina de três anos, o último tesouro que Eva lhe deixara já com cinquenta anos. Tinha de ter forças para suportar aquele dia, para ouvir as condolências e os pesares! Mas, teria de ter ainda mais forças para olhar os filhos nos olhos e dizer-lhes que teriam de seguir em frente, que era assim que a mãe quereria. Jo atirou-se para a cama e chorou, chorou compulsivamente até não ter mais lágrimas para verter."

 

Excerto do romance "Mãe d'Água" de 2019, por Olga Cardoso Pinto

 

 

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