Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Fotografia VS Poesia

16.06.21, Olga Cardoso Pinto

alhambra.JPG

Aurora Boreal

Tenho quarenta janelas,

nas paredes do meu quarto,

sem vidros nem bambinelas,

posso ver através delas,

o mundo em que me reparto.


Por uma entra a luz do sol,

por outra a luz do luar,

por outra a luz das estrelas,

que andam no céu a rolar.


Por esta entra a Via Láctea,

como um vapor de algodão,

por aquela a luz dos homens,

pela outra a escuridão.


Pela maior entra o espanto,

pela menor a certeza,

pela da frente a beleza,

que inunda de canto a canto.


Pela quadrada entra a esperança,

de quatro lados iguais,

quatro arestas, quatro vértices,

quatro pontos cardeais.


Pela redonda entra o sonho,

que as vigias são redondas,

e o sonho afaga e embala,

à semelhança das ondas.


Por além entra a tristeza,

por aquela entra a saudade,

e o desejo, e a humildade,

e o silêncio, e a surpresa.


E o amor dos homens, e o tédio,

e o medo, e a melancolia,

e essa fome sem remédio,

a que se chama poesia.


E a inocência, e a bondade,

e a dor própria, e a dor alheia,

e a paixão que se incendeia,

e a viuvez, e a piedade.


E o grande pássaro branco,

e o grande pássaro negro,

que se olham obliquamente,

arrepiados de medo.


Todos os risos e choros,

todas as fomes e sedes,

tudo alonga a sua sombra,

nas minhas quatro paredes.


Oh janelas do meu quarto,

que vos pudesse rasgar,

com tanta janela aberta,

falta-me a luz e o ar.


 António Gedeão

Fotografia: Palácio do Alhambra

 

18 comentários

Comentar post