O Tempo
O Tempo vai fluindo pelos caminhos do mundo, sem nunca retroceder, tal como o rio que não passa duas vezes no mesmo lugar. Na infância tudo é lento, sem o Tempo a cronometrar. Os verões são imensos em brincadeiras de dias ensolarados, longos como o fio do Tempo. As noites são preenchidas por sonhos coloridos de fantasia. Depois, o Tempo ganha asas na adolescência, tudo parece desenrolar-se sem o nosso controlo. O Tempo é pouco para tantos afazeres, tantas paixões, tanta avidez de vida. As voltas do mundo e do Tempo, levam-nos para as responsabilidades da adultez, as obrigações, os compromissos. O Tempo escapa-se pelos dedos, esvai-se como areia, nos dias de serenidade das pausas do trabalho. Corre, esse Tempo apressado, pelas ruas da cidade sem se refugiar em labirintos do espaço, envolve-nos nas horas dos dias que num ápice vão da manhã à noite.
O Tempo é matreiro e engana-nos, mesmo quando nos vemos ao espelho. Parece que ainda há pouco éramos crianças, em bicos de pés tentando pentear aquela madeixa de cabelo rebelde que teima em não ser amansada, e agora vemos as rugas, os cabelos brancos, a expressão, que nos deram outro rosto. Outra aparência de uma vida cujo senhor é o Tempo que corre sem abrandar...
O Tempo corre como um rio em direção ao mar, flui eternamente sempre no mesmo emanar. Nós é que o fazemos correr, numa ânsia de tudo abarcar com o receio de perder o destino desta viagem.
Foto: Ponte de Eixões sobre a Ribeira das Rodas, Campo do Gerês.
Para ouvir enquanto lê: The Alan Parsons Project - Time. Uma boa memória da excelente música desta banda dos anos 70/80.