Ponto a Ponto se une um Conto
Em Viagem... Dia 2
Olá Amigas, Amigos e Leitores Anónimos!
Agradeço o vosso regresso para mais uma leitura do conto, esperando que continue interessante e a despertar cada vez mais a vossa curiosidade.
Aguardo os vossos comentários, eles são importantes para mim!
Um abraço!
DIA 2
A chuva hoje está forte e promete ficar! Bem sei que é precisa, mas aborrece. Tudo fica transformado pela sua presença, até o humor.
Vou aqui sentado, no meu canto junto à janela, divagando com o olhar pela paisagem encharcada, nada de pássaros, nem crianças… tudo parece chorar pela vinda do sol!
Reparo na velhinha no cais. Naquela idade porque andará, a esta hora e com esta chuva, a transitar por aqui? Não trabalhará certamente, terá alguém para cuidar? Talvez vá a uma consulta… vejo-a a entrar e dirigir-se para o lugar desocupado junto a mim!
— Então, bom dia, jovem!
— Bom dia! – fico feliz pelo seu cumprimento, talvez o primeiro feito no metro, e atiro-lhe logo com uma pergunta, em jeito de isco para lhe fisgar uma conversa:
— Com este tempo anda a passear?
— Qual quê! Tenho de ir ao hospital! Tenho consulta!
Yesss! Acertei! E para não perder a embalagem, volto à carga:
— Mas hoje está péssimo! Ainda apanha uma valente gripe!
— Isso não! A médica do centro de saúde queria que apanhasse a vacina, mas eu respondi-lhe que nem pensar! Querem é matar os velhos com estas vacinas! Vacinas antivelhos! – e deu uma valente gargalhada à qual não resisti e também desatei a rir, dando-me conta que ultimamente não me ria assim tão alto! Uma velha a fazer-me rir, há coisas mesmo engraçadas! Todos nos olham com ar estranho!
— E você, caro jovem? De onde vem e para onde vai?
— Eu venho de minha casa, vou de metro para o trabalho, sou professor numa escola secundária!
— Ah, é? Então é professor de quê? – perguntou ela mirando-me de cima a baixo. Eu inseguro, mirando-me também, não fosse ter algo sujo ou coisa assim e respondi-lhe:
— Sim! Sou professor de filosofia!
— E isso trata de quê? – indagou ela, revirando algo que trazia num saco.
— Trata de questionar as coisas da vida, da nossa existência, da natureza, da arte e do universo! Filosofia quer dizer amor à sabedoria!
— Muito bem, jovem! Ah o amor… tome e ande sempre com isto, vai fazê-lo sentir-se melhor! – deu-me para a mão algo que não reconheci de imediato. Senti o seu toque quente e suave, embora, pelo aspeto da sua mão engelhada e com manchas sanguíneas, me fosse parecer que esse toque seria frio e desagradável.
— Agora tenho de ir, vou sair aqui! – pousou-me a mão no ombro e proferiu algo inaudível para os meus ouvidos, mas senti um alento morno que se enroscou no meu coração, lembrando-me da minha querida avó Natércia!
Desejei que a velhinha ficasse até ao fim da minha viagem, conversando comigo e ajudando a passar os minutos. Segui-a a atravessar o cais, acenei-lhe e ela correspondeu sorrindo. Depois, senti na minha mão o que ela me tinha dado. Era uma flor murcha, pareceu-me uma orquídea de cor lilás! Não percebi a sua intenção e fiquei desejoso de a voltar a encontrar para lhe perguntar!