Ramifico-me
Ramifico-me em mil tendões vegetais, em múltiplas veias de seiva fresca.
Cada parte de mim espalha-se em perpétuos volteares, estendendo-se na procura de solo fértil.
Uma gota de chuva é um oceano de vida, de proliferação, de energia. De mim já nada avisto, só os meus músculos, deles brotam finas folhas tenras. E avanço, avanço cada vez mais. Sem olhos, sem ouvidos ou boca, mas de sentimentos latentes na procura de ir, de continuar. Transponho os obstáculos, pedras, raízes, outros seres que vivem junto ao solo, no chão repleto de vida.
Ramifico-me incansavelmente. Ávida por me multiplicar. Sou agora forte. Nasci de uma minúscula semente, ganhei corpo e tornei-me nesta força vegetal, em constante crescendo como numa música épica.
Chegou o sol afagando-me o corpo. Este corpo de membros dispersos. Vou prosseguindo no meu destino estoicamente. Sinto algo dentro de mim, uma comichão agradável. Há algo a irromper dos meus membros esguios. São flores. Despontam-me as primeiras flores! Que alegria, que orgulho! Sou fruto, aroma e cor. Serei um todo. Sou um ser.
Ramifico-me incansavelmente.
Ramifica-te também
Somos como as plantas, basta querer...
Para ouvir: HAEVN: "No Mans Land"