Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

A Cor da Escrita

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Páginas onde a ilustração e o desenho mancham de cor as letras nascidas em prosa ou em verso!

Simplicidades escondidas

06.04.22, Olga Cardoso Pinto

IMG_4505.jpg

Uma pequena aldeia aninhada entre imponentes fragas, abeira-se discretamente sobre a cidade, mira-a do alto, plena de vistas soberbas para as serras, para os campos e para tanto céu!

A subida é a custo, sob o sol quente de uma Primavera que surge tímida. Mas o caminho secreto, escondido daqueles que ali não pertencem, heis que subitamente se abre para nós. Uma rajada de vento desvia as sebes e o pequeno arvoredo que lhe esconde o acesso. Sentimo-nos os eleitos! Temos permissão para o calcorrear, para desvendar os seus segredos, para conhecer e desfrutar das riquezas ali escondidas...

Caminha-se em silêncio, só ouvimos o restolhar dos nossos passos sobre as folhas e os gravetos secos que alcatifam os caminhos e o cantar das aves. Ah, as aves! Que melodias nos dedicam, que trinados belos orquestram! Sobre nós, além dos pássaros, também as jovens folhas tenras e verdejantes vão enfeitando generosamente as copas das ansiãs árvores, renovam-se a cada vai e vem das estações. Roubam-nos a atenção, obrigando-nos a estancar para apreciarmos de nariz no ar, em jeito de contemplação, o bonito recortado de luz e sombras que brinca com os jovens rebentos sedentos de atenção.

Um perfume singelo e natural paira no ar. Um misto de erva fresca, de laranjas aquecidas ao sol da tarde, a terra fértil, a gado e água fresca. Lá longe corre esse líquido que permite que esta terra seja sã e fecunda, permite que aqui nasçam esperança e sonhos, muitos sonhos.

O caminho está a terminar. Recebe-nos um idoso carvalho que se inclina, despedindo-se num breve adeus para quem sai deste lugar, desta vereda misteriosa, escondida para quem não aprecia as simplicidades do campo e da natureza. E o caminho vai findando, tornando-se mendinho quase um fio de seda, com pena minha. Num relance, volto-me para trás e num gesto rápido apanho-lhe a ponta e ato-a a uma madeixa dos meus cabelos, assim saberei voltar e encontrá-lo. Sim, voltarei muitas e infinitas vezes. Até breve!